Marcus Pereira Novaes
Universidade Estadual de Campinas
Mesa de comunicação 01: Poesia, cinema e tai chi chuan
Marcus Pereira Novaes
Universidade Estadual de Campinas
Marcus é filiado ao Programa de Pesquisador de Pós- Doutorado (PPPD) da Unicamp. Possui doutorado em Educação (FE-Unicamp), é pesquisador do grupo OLHO - (FE - Unicamp) e pesquisador do Grupo Transversal (FE - Unicamp). É editor da Revista Leitura: Teoria & Prática (e-ISSN: 2317-0972). Realiza formação de professores com ênfase nas Filosofias da Diferença, Linguagem, Literatura, Cinema, Cultura e Artes.
Uma pedagogia no cinema chinês: infâncias entre tempos cristalizados e espaços vazios
Esta proposta apresenta a hipótese de que o cinema chinês cria uma pedagogia das imagens de modo singular ao conectar de modo intensivo imagens sonoras e visuais, construindo diferencialmente relações entre espaço e tempo. Essa pedagogia apresenta uma potência quando aliada a problematizações que constroem conexões criativas entre aspectos relacionados às infâncias e às experimentações imagético-sonoras. Cineastas como Kaige Chen, diretor de “100 Flores Escondidas” (2002) e “O Rei das Crianças” (1987), e Quek Shio Chuan, diretor de “Guang” (2018), modulam imagens fílmicas em que personagens infantis têm que, constantemente, repensar seus hábitos e reinventar suas escolhas, devido a um meio que lhe é desfavorável. Devido ao esgotamento e impossibilidade de escapar ou reverter a história que as atravessa, resta às personagens, apresentadas por esses diretores, nos ensinar a ver e ouvir entre as imagens, entre as modulações sonoras e visuais que são expressas ao longo da montagem. Desse modo, essas personagens devêm pedagogas e nos ensinam a ver entre os fragmentos do tempo e a ouvir entre “espaços vazios” — um tipo de plano criado no cinema chinês, bastante conectado às pinturas clássicas chinesas —, conduzem-nos por uma perspectiva temporal em que o tempo parece cristalizar-se no jogo de montagem entre as imagens. Como referências a este trabalho, além de pensarmos juntos a filmes realizados na China, privilegiaremos alguns pesquisadores chineses vinculados às áreas da filosofia e dos estudos fílmicos como Siying Duan, Kang Cao e Kin Yuen Wong, bem como alguns possíveis encontros entre a filosofia de Gilles Deleuze e alguns filósofos clássicos chineses para adensarmos as relações entre infância e cinema. Por fim, cabe mencionar que essa proposta está vinculada ao projeto de pós-doutorado “Uma Pedagogia Cristal: alianças ab-errantes em cinematografias dos países BRICS”, através do qual buscamos pensar possíveis relações fílmicas e filosóficas entre esses países, debruçando-nos para pensar, junto a diretoras e diretores, problemas ético-políticos que são expressos por suas ideias quando atualizadas em imagens audiovisuais; bem como buscamos aprender com suas personagens infantis em meio às potências do desconhecido.
Patricia Guernelli Palazzo Tsai
Universidade Metodista de São Paulo
Mesa de comunicação 01: Poesia, cinema e tai chi chuan
Patricia Guernelli Palazzo Tsai
Universidade Metodista de São Paulo
Doutoranda em Ciências da Religião junto à UMESP. Visiting Scholar na Universidade de St. Andrews (2023/2024-1). Mestra em Ciências da Religião junto à UMESP. Membra do Centre for the Study of Religion and Politics, da Universidade de St. Andrews. Professora do Instituto Pramāṇa e Diretora Jurídica da Associação Buddha-Dharma. Co-fundadora da Sakyadhita São Paulo.
Como era a sua face antes de seus pais te darem à luz? Explorando a relação entre śūnyatā e tathāgatagarbha na poesia de Qíyuán Xínggāng.
A monja chinesa Qíyuán Xínggāng (祇園行剛) (1597-1654), antes de se tornar detentora de linhagem de Dharma se dedicou à contemplação, ao longo de muitos anos, do tópico de meditação (公案, gōng’ àn) “Medite sobre como era a sua face antes de seus pais te darem à luz” (參父母未生前本來面目) – pertencente à categoria dos Sūtras da Prajn͂āpāramitā (般若波羅蜜多心經). Ao compreender o seu significado compôs um poema sobre como os tópicos da vacuidade e da natureza de Buddha estão conectados com o 公案 mencionado. A presente comunicação tem por objetivo apresentar uma tradução do poema, bem como uma análise dos tópicos mencionados, evidenciando a discussão de Qíyuán Xínggāng acerca da relação entre os conceitos de śūnyatā (空性) e tathāgatagarbha (如来藏). Além disso, a comunicação pretende trazer como o pensamento de Qíyuán Xínggāng conversa com os argumentos da tradição indiana de Kamalaśīla (c. 740-795), que em sua obra Madhyamakāloka, entende śūnyatā e tathāgatagarbha como equivalentes, bem como dos elementos presentes no Sermão do Grande Fundamento (大本經; Skt. Mahāvadānasūtra), traduzidos e comentados por Plínio Tsai.
Tiago Oviedo Frosi
Universidade Estadual de Campinas
Mesa de comunicação 01: Poesia, cinema e tai chi chuan
Tiago Oviedo Frosi
Universidade Estadual de Campinas
Tiago Oviedo Frosi é Doutorando na FEF-UNICAMP. Possui Mestre em Ciências do Movimento Humano pela ESEFID UFRGS, Especialização em Psicologia Transpessoal pela SPEI e Bacharelado em Educação Física pela ESEFID UFRGS. É instrutor de Karate, Taijiquan e Qigong. Autor dos livros “Práticas Integrativas” e “Introdução ao Karate Shotokan”. Pesquisa a História e Sociologia do Esporte, além das confluências entre Psicologia e Pensamento Asiático.
INFLUÊNCIAS TAOÍSTAS NA PRÁTICA DO TÀIJÍ QUÁN
Praticar respeitando o princípio da Naturalidade (Zìrán) é uma ideia presente em todas as escolas de Tàijí quán (Tai Chi Chuan). Zìrán tem origem em desenvolvimentos culturais da antiga China. As ideias que compõe Zìrán estão registradas no Clássico do Caminho e da Virtude de Lǎozi (Dàodé Jīng), o livro central da tradição taoísta, e foram disseminadas em artes marciais e práticas de auto cultivo nos últimos 2.500 anos. Zìrán é um estado de equilíbrio e de estabilidade. O desequilíbrio afetaria tanto o mundo quanto o ser humano, que fazem parte do mesmo continuum. Essa visão de mundo vai influenciar muitos desenvolvimentos posteriores, como o Taoísmo, por volta do século II. Juntamente de práticas de auto cultivo e divinação, o Taoísmo cria profundas raízes na China ao introduzir ideias que são simples, práticas e discutidas até a atualidade. Esses conceitos impregnam a cultura chinesa, incluindo as práticas corporais terapêuticas e as práticas marciais - que posteriormente se tornam diferentes estilos de wǔshù, especialmente as ditas escolas internas (nèi jiā). O objetivo desse estudo é, portanto, compreender o que é o Zìrán conforme os registros históricos e as confluências desse pensamento clássico com suas representações em tempos recentes, através de manifestações de instrutores de Tàijí quán contemporâneos em fontes documentais e mídias digitais. As falas selecionadas são atribuídas a quatro mestres de Tàijí quán de destaque nacional e internacional e que têm livros publicados sobre o tema. As fontes foram analisadas à luz da História Cultural e passaram pela Análise de Conteúdo para melhor interpretação dos dados prospectados. O Dàodé Jīng apresenta cinco ocorrências de menções e explicações de Zìrán. Nos documentos também há incontáveis menções a Zìrán, como a forma ideal de praticar em alinhamento com o Dào. Da mesma forma, encontramos, nas manifestações dos mestres, a ênfase em buscar a realização do treinamento em um estado de equilíbrio e Naturalidade. Identificamos inclusive o que seria Zìrán em relação à tática de combate, representada em detalhes pelas “energias intrínsecas” praticadas no tuīshǒu. Neste caso, percebemos uma forma de tática de combate bastante distinta daquela presente nas artes marciais mais populares. Percebemos que o princípio de Zìrán está presente no imaginário de diferentes gerações de praticantes de Tàijí quán, moldando os treinamentos às representações oriundas de formulações culturais com milhares de anos de existência. Trata-se não apenas de uma evidência clara dos processos de racionalização e ritualização das práticas de luta, como também evidência da apropriação e presença de elementos do Taoísmo na arte marcial. A compreensão desses processos pode auxiliar muito o ensino das artes marciais chinesas, evitando distorções e o esvaziamento de significados da historicidade dessas práticas.
Ricardo Mazzeo
Universidade Estadual de Campinas
Mesa de comunicação 02: Diálogos com Yuk Hui e a filosofia chinesa
Ricardo Mazzeo
Universidade Estadual de Campinas
Ricardo Mazzeo é graduado em História pela UNIRIO - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, mestre em Ciência da Religião pela UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora. Atualmente é doutorando em Ciências Sociais pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas. Tem como áreas de interesse temas relacionados à História da Religião, Teoria da Religião, Campo Religioso, História dos Protestantismos, História do Oriente, Pensamento Oriental, Protestantismos no Oriente, Religiosidade popular no oriente. Atualmente desenvolve pesquisa ligada a receptividade da obra clássica chinesa Romance do Três Reinos e da figura do Deus da Guerra chinês, Guan Yu, no Brasil e no Ocidente.
Reflexões sobre o conceito de Cosmotécnica e a digitalização: entre os imperialismos, as assimilações e as reificações no mundo digital.
A proposição do ensaio está na compreensão das transformações que processos de digitalização podem ocasionar em todo o mundo. Há na discussão sobre a digitalização na atualidade uma raiz que se direciona até o debate Heideggeriano sobre a imposição ou inevitabilidade da ideia/modelo de técnica ocidental sobre as demais sociedades. Ainda que indiretamente, nessa discussão impor-se-ia, a partir da digitalização, um processo homogeneizante em relação às formas de pensar e agir diante do espaço digital. Lev Manovich iria falar sobre a lógica da interface e como as ferramentas digitais construídas a partir da segunda metade do século XX carregam consigo uma visão de mundo específica, no caso, criada a partir do contexto de um Norte Global. As evidências disso estariam expostas nos debates que envolvem a falta de neutralidade de alguns algoritmos e IA’s e que até mesmo chegam a reproduzir preconceitos absurdos. Se essa premissa é assumida como verdadeira, poderíamos pensar na digitalização, em maior ou menor grau, como um processo de imposição cultural, ou, até mesmo como uma forma de imperialismo. Evidentemente, uma questão tão complexa não poderia ser tratada de forma tão simples. A partir das reflexões de Yuk Hui e do conceito de Cosmotécnica se elaboram bases para um questionamento desse problema. Esse autor irá refletir a partir do contexto chinês como as diferentes concepções ontológicas sobre o mundo construíram diferentes modelos, ou diferentes relações com a ideia de técnica, refletindo naquilo que o autor define como cosmotécnicas. Essas reflexões afetam o peso dado à compreensão heideggeriana de uma inevitabilidade do modelo de técnica ocidental sobre as outras partes do globo. Ainda que seja imperativo discutir sobre os problemas que envolveriam os algoritmos e a reprodução de preconceitos, entre outros casos, há na discussão sobre a variedade de compreensões ontológicas sobre o mundo uma raiz para discutir como, nos mais variados contextos, podem ser percebidas outras relações em relação ao digital que não podem ser reduzidas a uma cosmovisão específica. Haveria, nos atores locais, dos mais variados contextos, relações e articulações que possibilitariam pensar nestes não somente como agentes passivos ou meros receptores, mas também agentes ativos construtores de suas próprias e novas relações diante da emergência da digitalização. Refletir acerca dessas questões é a proposição desse ensaio.
Tauan de Almeida Sousa
Universidade Estadual de Campinas
Mesa de comunicação 02: Diálogos com Yuk Hui e a filosofia chinesa
Tauan de Almeida Sousa
Universidade Estadual de Campinas
Doutorando em Ciências Sociais na Universidade Estadual de Campinas. Mestre em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão (2016). Bacharel e licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão (2014). Atua como professor de Sociologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão
Pensando além das “Ruínas” do Antropoceno: Diálogos entre o pensamento social latino americano e a filosofia chinesa contemporânea
Conforme o professor Luiz Marques (2023), vivemos o decênio decisivo para que mudanças societárias de caráter estrutural possam, pelo menos, atenuar as consequências produzidas pelo aumento da temperatura do planeta e de outros processos deletérios. Em tal contexto, “Há um futuro por vir?”, questionam-se Débora Danowski e Eduardo Viveiros de Castro (2022). A apresentação proposta insere-se nos debates críticos acerca do Antropoceno e busca apresentar elementos iniciais que possam contribuir com uma resposta, sempre provisória, à seguinte questão norteadora: quais diálogos podemos estabelecer entre a filosofia chinesa contemporânea e o pensamento social latino americano, nesta busca por transformações tão radicais? Para tanto, do primeiro campo tomamos emprestadas as reflexões de Yuk Hui (2022) sobre tecnodiversidade e cosmotécnicas, assim como de Zhao Tingyang (2016) e Shuchen Xiang (2023) sobre a Tianxia e o Cosmopolitismo Chinês, respectivamente; do segundo, os debates sobre extractivismo (Aráoz, 2020; Gudynas, 2018) e neoextrativismo (Svampa, 2019; Acselrad, 2018; Zhouri, Bolados, Castro, 2016), assim como sobre pós-extractivismo (Gudynas, 2016), Bem-Viver (Acosta, 2016) e Direitos da Natureza (Gudynas, 2019). Considerando que o Antropoceno é símbolo de uma crise civilizatória, não é permitido imaginar saídas que sejam orientadas pelos ideais e práticas gestadas na modernidade capitalista, pelo Norte Global. Pensar futuros possíveis é uma tarefa coletiva que requer outras referências que possam ir além do antropocentrismo, da crença no progresso infinito e no desenvolvimento e da separação entre humanidade e natureza.
Eduardo Vichi Antunes
Universidade Estadual de Campinas
Mesa de comunicação 02: Diálogos com Yuk Hui e a filosofia chinesa
Eduardo Vichi Antunes
Universidade Estadual de Campinas
É Mestre em Política Científica e Tecnológica pelo Instituto de Geociências da Unicamp e Doutorando em Ciências Sociais pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da mesma universidade. Suas pesquisas estão focadas na relação entre ciência, tecnologia e filosofia chinesa
Existe um arranjo institucional propriamente cosmotécnico?
O pensamento de Yuk Hui abriu um universo totalmente novo no campo dos estudos filosóficos sobre China a partir das noções de cosmotécnica e tecnodiversidade. No campo político, contudo, a questão prática mais urgente ainda não foi discutida de modo satisfatório: se o sistema político chinês atual aparenta não ser propenso a recepcionar um novo entendimento sobre a técnica, como afirmado pelo próprio autor, qual seria a alternativa? Para lidar com essa questão é necessário complementar o trabalho de Yuk com o de outros filósofos, sendo assim propomos investigar as propostas de Jiang Qing (“constitucionalismo confuciano”) e de Zhao Tingyang (“democracia fundamentada pelo conhecimento”), ambas dotadas do intuito de reformulação tanto do sistema político chinês quanto do mundial, a fim de descobrir se são capazes de apontar caminhos para o cumprimento do projeto cosmotécnico de Yuk Hui.
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Grupo de Estudos Brasil-China