
José Jorge de Carvalho
José Jorge de Carvalho é professor titular de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB), Pesquisador do CNPq e Coordenador do Instituto de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa do CNPq, com sede na UnB. É um dos formuladores da proposta de cotas para negros e indígenas nas universidades federais brasileiras. Coordena a rede nacional do projeto Encontro de Saberes, destinado a incluir os mestres e mestras dos povos e comunidades tradicionais (indígenas, afro-brasileiros, quilombolas, entre outros) como docentes nas universidades baseados exclusivamente em seus saberes da oralidade. Com base nesse projeto, vem desenvolvendo uma filosofia intercultural enraizada no Brasil, que inclua nos seus exercícios comparativos não apenas as tradições filosóficas ocidentais e orientais, mas também as indígenas e afro-diaspóricas. Nestes termos, já propôs diálogos interculturais com Dogen, Nishida Kitaro, Watsuji Tetsuro, Lao Zi, Wang Yangming, Mengzi, Yi Togye, Yulgok, Hui Neng e Zhao Tingyang.

Uma Encruzilhada de Lógicas: Orientais, Ocidentais, Indígenas e Afro-Brasileiras
No Seminário Internacional de Lógica ocorrido na Universidade de Brasília em 1972, Ricardo Gonçalves (Monge Ryokan) delineou os temas que deveriam formar parte de um diálogo básico das lógicas ocidentais com as orientais: os sistemas lógicos indianos (Nyaya e não-dualismo Vedanta), budistas (o catuskoti de Nagarjuna), daoista (a lógica não-essencialista do Dao De Jing), os paradoxos de Gongsun Long e de Han Fei Zi, a lógica do soku hi dos sutras Prajnaparamita e a estrutura lógica-matemática do I Jing.
Ainda que de um modo preliminar e tentativo, proponho ampliar o quadro comparativo clássico proposto por Ryokan, colocando em diálogo as lógicas orientais, desta vez não somente com as ocidentais, mas também com as indígenas e as afro-diaspóricas.
Apresentarei algumas estruturas lógicas do candomblé similares às lógicas paraconsistentes, tais como a identidade dual e alterna do orixá Logunedé do Kêtu baiano; o modelo de encruzilhada de Exú e a alternância irreconciliável do seu boné preto e vermelho. Contrastarei também um provérbio de Exu com um lema equivalente de Gonsun Long, ambos sobre a reversão do tempo passado no presente. Esboçarei ainda uma semelhança em forma de triálogo entre a garrafa de Klein, a estrutura do tipiti e o mito da zarabatana de Wma Watu (ambos elementos das tradições indígenas amazônicas), e a lógica da relação entre o self e o mundo histórico formulada por Kitaro Nishida.
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